Vivo com uma amarração… há mais de 8 anos!
Nunca mais me esqueço da segunda vez que eu fui a Lisboa. Mais parecia a primeira. Fui direitinho a Belém!
Pastéis de nata?!
Nada disso. Fui direitinho aos jardins, à procura de uma cigana. Tinham-me dito que as ciganas eram exímias a ler as mãos e a prever o futuro e eu fui lá para crer.
Andava eu lá no parque, para lá e para cá, feito parvo, quando, de repente, vejo uma cigana e peço-lhe – sim, PEÇO-LHE, quase lhe implorando – para me ler a mão.
– Você vai ser um grande empresário.
[Juro que não tinha nada escrito na mão. Impressionante, não foi?!]
– A sério?!... Muito obrigado!
– São 10 euros.
– Pelo quê?! Por isto? Não me diga que não tem mais nada a acrescentar...
– Sim, tenho, mas tem de me dar a outra mão.
Talvez demasiado empolgado com aquela primeira revelação, sem hesitar, dei-lhe a minha outra mão para ela fazer outra leitura, como se, naquele exato momento, as minhas duas mãos fossem dois cabos ligados a um contador e a mente dela, iluminada, estivesse a ser alimentada por um sistema de ligação direta à minha carteira.
De entre as muitas coisas que a cigana me disse e que, por várias vezes, sempre de forma impressionante, acertou, destaco o facto de ela ter “visto” uma viagem para o exterior, uma viagem para breve, uma viagem para fora de Portugal.
[E não é que ela tinha razão. No dia seguinte, estava em Barcelona...]
E quando eu achava que a consulta tinha terminado, eis que surge a derradeira “visão”:
– Você tem uma grande amarração que tem de ser desfeita para ser bem-sucedido na vida.
– Sim?!... E isso é coisa para me custar quanto?
– 100 euros.
E eu?!
Só não paguei porque estava de viagem para Barcelona e o dinheiro poderia fazer-me falta...
No final:
«São 40 euros!» – exclamou a cigana depois de ter lido as minhas duas mãos e as duas mãos da minha então namorada, atual esposa.
[Sim, a minha esposa também deu as suas mãos para a cigana “ler”. Aliás, a ideia de lá irmos foi toda dela. E, depois disto, eu ainda casei com ela…]
«QUARENTA?! Então não eram 10 euros?» – perguntou a minha namorada, tentando redimir-se.
«Eram 10 euros por cada mão: 4 mãos, 40 euros!» – retorquiu a cigana.
[Matematicamente, nada a dizer. Aliás, nem sabia que os ciganos percebiam mais de matemática do que de quiromancia.]
Enfim, pagámos 20 euros e seguimos o nosso caminho… Escusado será dizer que, mal cheguei a Barcelona, fui assaltado na estação de metro da Sagrada Família: 40 euros custou-me o raio da praga da cigana.
Porque é que eu me lembrei disto agora?!
Porque, passados mais de 8 anos, sinto que a amarração persiste: não sou empresário, estou (parcialmente) desempregado e não viajo de férias há mais de dois anos. Neste momento, já só penso voltar a Lisboa e pagar os 100 euros ao raio da cigana!