Quem quer ser professor?!...
Em Portugal, há professores que dão aulas sem saberem escrever português nem saberem fazer cálculos simples de matemática. Pior do que isso. Alguns deles dão aulas de português e de matemática. E é por isso que a «Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades» dos professores do ensino básico e secundário nunca deveria ter sido eliminada. Quando muito, deveria ter sido substituída por um concurso televisivo, transmitido em direto e em horário nobre, em que o prémio final seria ingressar na carreira docente. Seria um êxito de audiências...
Muitos de vocês já não se devem lembrar da «Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades» (PACC) que os professores do ensino básico e secundário tiveram de realizar em 2013 e 2014, mas eu lembro-me muito bem. Lembro-me da prova, mas não só. Lembro-me de toda a história, desde a sua aprovação até à sua revogação. É uma história muito engraçada, digna de ser relembrada. Senão vejamos:
- Em 2007, o Governo liderado pelo PS aprovou um decreto que definia as regras da prova de acesso à carreira de professor e que estabelecia a realização de, pelo menos, dois exames para todos os candidatos a docentes.
- Em setembro de 2013, o Governo liderado pelo PSD – em coligação com o CDS/PP, – aprovou em Conselho de Ministros o diploma que alterava o modelo da prova e o universo de candidatos.
- Em dezembro de 2013, realizou-se a primeira prova de avaliação. Mais de 85% dos candidatos que realizaram a prova de avaliação foram aprovados.
- Em dezembro de 2014, realizou-se a segunda prova. Apenas cerca de 65% dos candidatos que realizaram a prova de avaliação foram aprovados.
- Em outubro de 2015, O Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade da prova por “não dispor de uma autorização da Assembleia da República».
- Em novembro de 2015, o Governo liderado pelo PS votou a favor dos decretos-lei do BE e do PCP que revogavam o decreto-lei que deu origem à PACC e a prova deixou de ser um requisito de acesso à carreira docente.
Ou seja, o partido político que aprovou a PACC em 2007 votou contra a existência da PACC em 2015. E porquê? Porque 2015 foi ano de eleições. Mas o mais engraçado de tudo isto não foi ver o decreto-lei que deu origem à PACC ter sido revogado pelo mesmo partido político que o criou e aprovou. Mais engraçado foi ver o decreto-lei que deu origem à PACC ter sido revogado depois de se ter ficado a saber que os erros mais comuns dos professores na prova tinham sido na ortografia e nas perguntas de raciocínio lógico-matemático.
Porque é que eu me lembrei disto agora?
Pois bem, porque me chegou às mãos a resolução de um exercício de uma professora de matemática que não sabe calcular o perímetro da combinação de duas figuras geométricas: um retângulo com um círculo. Que existam professores que deem erros ortográficos e/ou que não saibam resolver exercícios simples de matemática, ainda se pode desculpar, agora que existam professores de português e de matemática que dão esses mesmos erros, não há desculpa possível. Nem desculpa nem compreensão.
Em Portugal, há professores que dão aulas sem saberem escrever português nem saberem fazer cálculos simples de matemática. Pior do que isso. Alguns deles dão aulas de português e de matemática. E é por isso que a «Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades» dos professores do ensino básico e secundário nunca deveria ter sido eliminada. Quando muito, deveria ter sido substituída por um concurso televisivo, transmitido em direto e em horário nobre, em que o prémio final seria ingressar na carreira docente. Seria um êxito de audiências...
Apresentador: Preparado?
Concorrente: Sim.
Apresentador: Vamos então jogar ao «Quem quer ser professor?».
Primeira pergunta: No jogo da segunda mão do “play-off” europeu de acesso ao Mundial de 2014, Cristiano Ronaldo igualou o recorde de Pauleta no número de golos marcados pela seleção nacional de futebol. Sabendo que, antes do jogo, Cristiano Ronaldo tinha 44 golos marcados e que o recorde de Pauleta era de 47 golos, quantos golos marcou Cristiano Ronaldo nesse mesmo jogo?
a) 1 b) 2 c) 3 d) 4
[Só para que conste, a elaboração da pergunta acima teve por base o grau de dificuldade de uma das perguntas da PACC de 2015 em que cerca de 80% dos professores não souberam responder acertadamente.]
Concorrente: É pá, que sorte a minha… Tanta pergunta para me calhar e tinha logo de ser uma sobre futebol…
Apresentador: Então, vai pedir ajuda?
Concorrente: Sim, vou pedir a ajuda do telefone.
Apresentador: Tem a certeza?
Concorrente: Sim, tenho. Infelizmente, futebol não é o meu forte.
Apresentador: E é para telefonar a quem?
Concorrente: É para telefonar a um colega meu que é professor de educação física. Penso que será a pessoa mais indicada para me ajudar a responder a esta pergunta.
Apresentador: Com certeza…
Professor de Educação Física: Estou?!
Concorrente (depois de ler a pergunta): Tens 20 segundos…
Professor de Educação Física: Esse não foi o jogo entre a Suécia e Portugal?
Concorrente: É pá, não faço a mínima ideia. Foi por isso que te telefonei…
Professor de Educação Física: Se bem me lembro, acho que foi…
Concorrente: E então, qual é a resposta correta? Faltam 10 segundos…
Professor de Educação Física: É pá, não me lembro se o Cristiano marcou algum golo. Lembro-me, sim, que Zlatan Ibrahimovic chegou a marcar dois golos, um de cabeça e outro de livre direto.
Concorrente: E o Cristiano, o Cristiano, pá? Faltam 5 segundos…
Professor de Educação Física: É pá, o Cristiano não me lembro…
Apresentador: E agora?
Concorrente: E agora fiquei na mesma…
Apresentador: Olhe bem para a pergunta, nomeadamente para a segunda parte...
Concorrente (em voz alta): Sabendo que, antes do jogo, Cristiano Ronaldo tinha 44 golos marcados e que o recorde de Pauleta era de 47 golos, quantos golos marcou Cristiano Ronaldo nesse mesmo jogo?
Apresentador: E então?
Concorrente: Pois, agora que reli a pergunta é que realmente percebi...
Apresentador: Percebeu o quê?
Concorrente: Percebi que deveria ter telefonado a um colega que é professor de matemática...