Pronominalização: Muito mais do que um palavrão!
Pronominalização: mais do que um palavrão, um conjunto de regras gramaticais para a correta articulação e colocação de verbos com pronomes.
«Amarei-te para todo o sempre!» – se a vossa namorada é (literalmente) um avião e vocês a amararam no meio de um oceano «para todo o sempre», fizeram bem... ao dizê-lo (i.e., gramaticalmente, a articulação do verbo «amarar» no pretérito perfeito do indicativo – «amarei» – com o pronome átono «te» está correta). Ao invés, se a vossa namorada não é um avião, fizeram mal, literalmente ao dizê-lo, metaforicamente ao fazê-lo.
«Amar-te-ei para todo o sempre!» – se o disseram à vossa namorada porque acham que a vão amar «para todo o sempre», fizeram muito bem ao dizê-lo (i.e., gramaticalmente, a articulação do verbo «amar» no futuro do indicativo – «amarei» – com o pronome átono «te» está correta). Ao invés, se acham que não a vão amar «para todo o sempre» e só o disseram porque (metaforicamente) a vossa namorada é um "avião" e queriam ir para a cama com ela, fizeram mal, muito mal até, não literalmente e/ou gramaticalmente, porque a frase está correta, mas moralmente, porque os vossos princípios estão errados.
Feita esta breve introdução, seguem-se as principais regras da pronominalização no que diz respeito à correta articulação de verbos com pronomes:
1 – Quando a forma verbal termina em vogal, o pronome não sofre alterações.
Eu amo a Maria. → Eu amo-a. [amo-na | amo ela]
2 – Quando a forma verbal termina em «r», «s» ou «z», estas consoantes caem e o pronome pessoal passa a ser «-lo», «-la», «-los», «-las».
Prometo amar e respeitar a Maria para todo o sempre. → Prometo amá-la e respeitá-la para todo o sempre. [amar-na e respeitar-na]
Nós sabemos que o mais difícil não é casar. → Nós sabemo-lo. [sabemos-no]
Eu fiz o pedido. → Eu fi-lo. [fiz-no]
3 – Se a forma verbal terminar em «m» ou em ditongo nasal («õe» ou «ão»), o pronome tomará as formas «-no», «-na», «-nos», «-nas».
Eles sabem que o mais difícil não é casar. → Eles sabem-no. [sabem-lo]
Ela põe o marido na linha. → Ela põe-no na linha. [põe-o]
4 – Quando a forma verbal está no modo condicional, o pronome coloca-se entre o radical do verbo e as terminações verbais «-ia», «-ias», «-ia», «-íamos», «-íeis», «-iam»). No entanto, como o radical termina em «r», este cai e o pronome ganha um «l», transformando-se em «-lo», «-la», «-los», «-las».
Eu levaria o vestido da mãe se ele me assentasse na perfeição. → Eu levá-lo-ia se ele me assentasse na perfeição. [levaria-no | levaria-o]
Nós convidaríamos todos os nossos amigos se eles não fossem muitos. → Nós convidá-los-íamos (a todos) se (eles) não fossem muitos. [convidariamo-los]
5 – Quando a forma verbal está no futuro, o pronome coloca-se entre o radical do verbo e as terminações verbais «-á», «-ás», «-á», «-emos», «-eis», «-ão». No entanto, como o radical termina em «r», este cai e o pronome ganha um «l», transformando-se em «-lo», «-la», «-los», «-las».
Nós faremos a lua-de-mel num cruzeiro. → Nós fá-la-emos num cruzeiro. [faremo-la]
Eles terão filhos muito bem-educados. → Eles tê-los-ão muitos bem-educados. [terão-os]
6 – Quando a frase está na negativa, o pronome vem antes do verbo, sem sofrer alterações, tal como nalguns casos em que a frase está na forma interrogativa.
Achas que ele ama a Maria? → Achas que ele a ama? [ama-a]
Ele não demonstra que a ama. → Ele não o demonstra. [demonstra-o]
Casos especiais: Sempre que, na frase, se encontrem em contacto duas formas de pronome pessoal – complemento direto e indireto –, elas contraem-se formando uma só palavra, seja qual for o tempo verbal.
Ele ofereceu um anel de noivado à Maria. → Ele ofereceu-lhe um anel de noivado. → Ele ofereceu-lho. (lhe + o = lho)
Nós oferecemos-te o vestido. → Nós oferecemos-to. (te + o = to)
No que diz respeito à correta colocação de verbos com pronomes, os pronomes átonos «me», «te», «se», «o», «a», «os», «as», «lhe», «lhes», «nos», «vos» podem vir antes, depois ou no meio do verbo:
- Próclise: o pronome vem antes do verbo.
Ele não o demonstra.
- Ênclise: o pronome vem depois do verbo.
Eu amo-a.
- Mesóclise: o pronome vem no meio do verbo.
Nós fá-la-emos num cruzeiro.
A colocação de verbos com pronomes átonos deve respeitar as seguintes regras:
1 – Regra geral, a conjugação pronominal deve ser feita através da ênclise ou da mesóclise, sendo que nunca devemos começar uma frase com um pronome átono.
Amarás a Maria para todo o sempre? → Amá-la-ás para todo o sempre? [a amarás]
Não obstante, há palavras e/ou expressões que exigem que o pronome seja colocado antes do verbo:
i) palavras com sentido negativo: não, nunca, jamais, ninguém, nada, nenhum, nem,…
Ele demonstra-o. → Ele não o demonstra.
Ele ofereceu-lho. → Ele não lho ofereceu.
ii) advérbios (sem vírgula): aqui, ali, só, também, bem, mal, hoje, amanhã, ontem, já, nunca, jamais, apenas, tão, talvez, etc.
Ontem lhe entregaram flores. [entregaram-lhe]
Com a vírgula, utiliza-se a ênclise:
Ontem, entregaram-lhe flores. [lhe entregaram]
iii) pronomes indefinidos: todo, tudo, alguém, ninguém, algum,...
Nós falámos e tudo se esclareceu. [esclareceu-se]
Alguma coisa se passou para ele não ter vindo jantar. [passou-se]
iv) pronomes ou advérbios interrogativos (o uso destas palavras no início da oração interrogativa atrai o pronome para antes do verbo): «O que… ?», «Quem… ?», «Por que…?», «Quando… ?», «Onde… ?», «Como… ?», «Quanto…?».
Quem te disse que eles querem casar? [disse-te]
v) pronomes relativos: que, o qual, quem, cujo, onde, quanto, quando, como.
Quando mo disseram, já eu o sabia. [disseram-mo]
vi) conjunções subordinativas: que, uma vez que, já que, embora, ainda que, desde que, posto que, caso, contanto que, conforme, quando, depois que, sempre que, para que, a fim de que, à proporção que, à medida que, etc.
Caso ele se arme em esperto, eu sei muito bem o que fazer. [arme-se]
2 – Não colocar pronomes átonos após o particípio
O correto é analisar cada situação para observar o lugar adequado, mas nunca após o particípio.
Eu tinha-o convidado para jantar, mas ele não disse que não podia. [convidado-o]
Nota: Na língua portuguesa, a palavra «se» pode ser conjunção ou pronome átono e há situações em que ambos podem muito corretamente aparecer na mesma construção, cada um exercendo seu papel.
Quando eu o vi na rua, ele não sabia se se escondia ou se fugia. [escondia-se]
3 – Não colocar pronomes átonos após verbos conjugados no futuro do indicativo
A depender do caso, caberá a mesóclise ou a próclise, mas nunca a ênclise quando os verbos estão no futuro do indicativo.
Eles farão a lua-de-mel num cruzeiro. → Eles fá-la-ão num cruzeiro. [farão-na | farão-a]
Eles terão filhos muito bonitos. → Eles tê-los-ão muito bonitos. [terão nos | terão-lhes]
Dito isto, é bom que o(s) futuro(s) pretendente(s) da minha filhota saiba(m) expressar-se da melhor forma possível, caso contrário, vamos ter sérios problemas de comunicação. Aliás, se depender de mim, só se casa com ela se souber falar português. Se for mulher, leva vantagem!