Porra, fui selecionado para uma entrevista de trabalho!
Já diz o povo que «às três é de vez» e, depois de eu ter conseguido duas entrevistas de trabalho – uma presencial em maio de 2014, outra por Skype em julho de 2017 –, já só temo que o povo tenha mesmo razão.
Ainda faltam alguns dias para a entrevista, mas eu já tenho a conversa toda feita:
– Esclareça-me uma coisa: Você sabe mesmo trabalhar com estes programas estatísticos?
– Não, não sei.
– Não sabe?! Mas no seu Curriculum Vitae diz que você tem experiência com estes programas.
– E tenho, mas já foi há tanto tempo que eu já nem me lembro de como se abrem os programas, quanto mais para trabalhar com eles.
– Enfim, não há de ser por isso que você vai deixar de ficar com esta bolsa.
– Bolsa?!...
– Sim, bolsa de investigação.
– Aquelas bolsas que não dão direito a subsídio de alimentação, subsídio de férias, subsídio de natal e que, quando terminam, não dão direito a subsídio de desemprego?!
– Não se resume apenas a isso, mas, sim, trata-se de uma bolsa de investigação.
– Só me falta dizer que o valor da bolsa é igual a um salário mínimo...
– Não, esteja descansado porque o valor da bolsa é bem superior ao salário mínimo.
– Superior ao salário mínimo?!... Se é para trabalhar mais de 8 horas por dia, aviso desde já que eu não estou disponível...
– Não, o horário de trabalho é o equivalente ao de um funcionário público: 7 horas por dia, 35 horas por semana.
– Pois, mas sabe, eu tenho uma filhota com apenas 13 meses e sete horas por dia vai ser complicado...
– Mas não tem com quem deixar a sua filha?
– Sim, tenho. Tenho a escola e a avó, mas como ela nunca ficou com ninguém que não tenha sido eu e/ou a minha esposa, temo que ela vá estranhar muito... Aliás, só para ter uma ideia, tenho um cunhado que só de ela olhar para a cara dele começa logo a chorar, veja lá.
– Bem, só se você trabalhasse em casa...
– Em casa?!... Com a minha filhota?! Nem pensar... Desde que ela começou a gatinhar e a andar de pé agarrada aos móveis que eu já não consigo fazer outra coisa em casa que não seja estar de olho nela.
– Posso lhe fazer uma pergunta?
– Sim, claro. Você é que é o entrevistador...
– Você não está muito interessado nesta bolsa, pois não?
– Sabe, na verdade, eu até estou bastante interessado, mas desde que a minha esposa soube que eu tinha sido o único admitido para a fase das entrevistas que não para de chorar, tudo porque não quer deixar a nossa filhota com ninguém que não seja comigo. E o mais estranho nisto tudo é que foi ela quem me informou sobre esta bolsa e me disse para concorrer!