Fui andar de autocarro... com os meus filhotes!
Hoje, pela primeira vez, eu e a minha esposa levámos os nossos dois filhotes a andar de autocarro e a reação deles não poderia ter sido melhor. E a nossa também não. Parecíamos pessoas do campo que nunca tinham ido à cidade nem visto o mar. Na verdade, parecia até que nunca tínhamos andado de autocarro. Adorámos tanto que eu já não penso noutra coisa...
Hoje, dia 1 de março de 2020, vai ficar para a história dos meus filhos. Para a dos meus filhos e a minha e da minha esposa também. Pela primeira vez, eu e a minha esposa levámos os nossos filhotes a andar de autocarro. Não foi uma viagem por necessidade. Foi uma viagem por lazer. Há muito que eu dizia à minha esposa que devíamos levar os nossos filhotes a andar de autocarro, mas só hoje é que isso aconteceu.
[Sim, eu sei: Andar de autocarro com duas crianças numa altura em que toda a gente quer evitar sair à rua por causa do «novo coronavírus» é uma verdadeira loucura, mas eu queria fazer isto antes que o mundo acabasse...]
Eram oito horas da manhã quando nos levantámos. Vestimo-los, vestimo-nos e saímos de carro até o centro comercial mais próximo para deixarmos o carro a lavar e darmos início à nossa aventura. Dentro do centro comercial, numa tabacaria, comprámos dois cartões com duas viagens para cada um e lá fomos nós para a paragem mais próxima. O relógio marcava 10h05 da manhã quando a minha filhota de três anos esticou o braço e mandou parar o autocarro «lalhanja». Eu, que de nós os quatro era quem mais tinha experiência a andar de autocarro, entrei em primeiro lugar para validar os cartões. Onde é que eu tentei validar os cartões de viagem? No visor. Uma e outra vez, até o condutor me indicar que o sensor era um pouco mais abaixo. Depois de libertar um pequeno sorriso (idiota), lá entrei eu a correr de mão dada com a minha filhota para me sentar onde? Nos bancos de trás, claro. Naqueles que ficam mais altos e nos permitem fazer caretas para as pessoas que vêm nos carros atrás do autocarro.
[Não, não fizemos caretas para quem vinha atrás, mas só porque a minha filhota não se quis pôr de joelhos em cima do banco, de costas voltadas para o condutor. Aliás, o facto de a mãe não ter concordado é bem capaz de ter contribuído para que ela não o tenha feito...]
No início, tanto a minha filhota de três anos como o meu filhote de um ano e oito meses, pareciam estar muito pensativos, em silêncio, talvez a tentar perceber o que é que os pais lhes estavam a tentar fazer. Talvez estivessem a pensar que era um castigo por estarem constantemente a fazer birras...
– Gostas mais de andar de autocarro ou de andar no carro do papá?
– No carro do papá...
Ainda era nuito cedo – e tudo muito estranho – para aqueles dois pequenos seres que estavam habituados ao conforto de um carro. Mas se eu teimava em tentar animá-los – de forma bastante ostensiva – para que aquela fosse uma experiência memorável, eis que alguém teimava em fazer o contrário, não tinham passado três minutos que estávamos dentro do autocarro:
– Já estou a ficar maldiposta... Acho que vou sair na próxima paragem.
De quem foi este comentário? Da minha esposa, claro. De quem mais haveria de ser?!... Da minha filhota, o seu primeiro comentário não poderia ter sido melhor:
– Eu saltei...
– Sim, o autocarro deu um salto. Tu gostaste?
– Simmmm... Eu que'lho mais...
[Só para terem noção do quanto a viagem de ida foi divertida: até o senhor que ia sentado na cadeira da frente virou para o lado e se estatelou no chão quando o autocarro estava a fazer uma curva dentro de uma rotunda.]
E lá fomos nós entre saltos e curvas, a apontar para os carros, os edifícios, as pessoas,... a apontar e a falar sobre tudo o que nós víamos – mais eu do que a minha esposa e os meus filhotes –, mais parecíamos pessoas do campo que nunca tinham ido à cidade nem visto o mar.
– Sebastião, olha o mar.
– Mar... Mar... Mar...
– Ei... Ei... Ei... Ei... Ei... Ei... Ei...
[Só para que conste: Os últimos gritos deste diálogo foram meus...]
E vinte minutos bastaram para que a minha filhota dissesse que já não queria sair do autocarro. Contrariada, saiu, mas com a promessa de que iríamos regressar de autocarro. Tomámos o pequeno-almoço na pastelaria de sempre e:
– Quem quer andar de autocarro?
– Eu, eu, eu,...
– Let's go...
No regresso, infelizmente a diversão já não foi tanta, muito por culpa do condutor:
– Papá, o autocarro não está a dar saltos...
– Pois, filha. Agora não é uma senhora a conduzir. É um senhor...
Enfim, pior do que aquela condução, só mesmo o cheiro que se fez sentir minutos antes de sairmos, mais parecia que estávamos a passar junto a uma ETAR...
– Está a cheirar mal... – disse a minha esposa, em voz alta, como se não soubesse que as pessoas dão "puns" dentro dos autocarros.
Ainda assim, nada que estragasse aquela que, muito provavelmente, foi a viagem mais divertida em família desde que somos pais. Aliás, adorámos tanto que eu já não penso noutra coisa:
Alguém quer comprar um Renault Clio de 2007? Está lavado de fresco, parece novinho em folha...