Férias, férias, férias... – Parte 1/2
Viajar de férias é das coisas que eu mais gosto de fazer. Andar de avião é das coisas que eu mais detesto. Viver numa ilha é das coisas que mais me emocionam sempre que eu viajo de férias. Na ida, emociono-me porque vou andar de avião. No regresso, emociono-me porque as férias acabaram e eu estou de volta a um lugar que não me deixa viajar de carro para lado nenhum a não ser para dar a volta à ilha. Mais emocionante do que isto só mesmo o facto de as minhas últimas férias terem sido aos Estados Unidos e de eu já não viajar de férias há cinco anos...
Férias, férias, férias... Das coisas que toda a gente gosta e eu não sou exceção. Gosto muito de férias desde pequeno. Na minha infância, gostava das férias porque era a única altura do ano em que eu fazia aquilo que não podia fazer durante o ano letivo: ficar em casa. Sim, é verdade. As minhas "férias grandes" eram passadas em casa sem fazer nada de especial, mas tudo era melhor do que ir para a escola. Na adolescência, gostava das "férias grandes" porque era sobretudo nesta altura que eu fazia aquilo que eu mais gostava de fazer: jogar à bola, andar de bicicleta, ir à praia e fazer longos passeios pela serra acompanhado pelo meu cão. Não é que eu não fizesse algumas destas atividades durante o ano letivo, mas nada como as fazer a tempo inteiro sem ter de estudar. Em adulto, já depois de eu começar a trabalhar, mais do que gostar, passei a valorizar e a aproveitar as minhas férias melhor do que nunca. Desde então, férias a sério são para viajar. Se não forem para viajar, não são férias. São descanso. E descanso é algo que eu gosto muito, mas só depois de fazer férias a sério. O meu problema é andar de avião. Detesto!
Andar de avião é das coisas que eu mais detesto, mas nem sempre foi assim. Em pequeno, muitas foram as vezes que eu, cá em baixo, com os pés bem assentes na terra, imaginei o que seria estar dentro daquele pontinho minúsculo que sobrevoava a ilha e deixava um rasto de "nuvens brancas" até o alto da montanha. Estar lá em cima, bem no alto, dentro daquele pontinho, a viajar e a conhecer o mundo, era um dos meus maiores sonhos. Em grande, viajar e conhecer o mundo continua a ser um dos meus maiores sonhos, mas estar dentro «daquele pontinho minúsculo» passou a ser um dos meus maiores pesadelos. Eu nunca apanhei nenhum grande susto nem passei por nenhuma experiência traumática dentro de um avião, mas a verdade é que, sempre que eu ando de avião, não consigo deixar de pensar na hipótese de o avião cair. Eu sei que, de acordo com as estatísticas, o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo, mas as estatísticas também dizem que as selfies matam mais do que os tubarões e eu prefiro tirar uma selfie a nadar num mar cheio de tubarões. O que é que querem que eu vos diga? Sou estúpido... Mais estúpido do que isto só mesmo viajar de avião tendo a certeza de que o avião vai cair. E foi exatamente isso que eu fiz no verão de 2008, quando viajei de avião pela primeira vez.
Nunca mais me esqueço da primeira vez que eu viajei de avião: fui de férias a Lisboa com a minha namorada. Até então, nunca tinha saído da ilha da Madeira, nem mesmo para ir à ilha do Porto Santo. Na verdade, nunca tinha feito férias fora do meu concelho de residência. E foi por isso que, assim que a minha namorada me convidou para ir de férias com ela a Lisboa, eu não pensei duas vezes: disse logo que sim. Só depois de eu entrar no avião é que eu comecei a pensar que ter aceitado aquele convite poderia não ter sido boa ideia. Porquê? Porque tudo o que anda pelo ar pode cair e a minha sina poderia ser a de o avião cair na minha primeira viagem de avião. Sim, eu sei que seria anedótico eu ter o sonho de andar de avião e o avião cair logo na minha primeira viagem, mas nunca ouviram falar daquele indivíduo que nunca tinha andado de avião porque tinha medo que o avião caísse e ele morresse e um dia um avião caiu em cima da casa dele e ele morreu? O destino é mesmo assim: imprevisível e muitas vezes irónico. Além do mais, o facto de eu estar a viajar sem a minha namorada – sim, sem a minha namorada, porque ela achou por bem ir para Lisboa com duas amigas duas semanas antes de mim – só me fazia acreditar ainda mais na hipótese de esta ser a minha primeira e última viagem de avião: porque tinha sido o destino – e não a minha namorada – que tinha feito com que ela não viajasse comigo no mesmo avião porque este era o meu destino e não o destino dela. A determinada altura, já não tinha dúvidas: o avião ia mesmo cair. O facto de o meu destino ser o destino dos outros passageiros – e da tripulação também – ainda me fez acreditar que este poderia não ser o desfecho da minha primeira viagem de avião, porque era uma coincidência inacreditável os nossos destinos se terem cruzado todos dentro do mesmo avião, mas depois comecei a pensar: Querem ver que o avião vai cair e eu vou ser a única vítima mortal? Porra, é que seria mesmo uma anedota...
No final, o avião não caiu e as minhas férias não poderiam ser mais memoráveis. Das memórias que eu guardo das minhas férias em Lisboa, destaque para o Parque das Nações, a Gare do Oriente, as ruas de Lisboa, o Castelo de São Jorge e a vista panorâmica sobre a Baixa, o Bairro Alto, a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, o Mosteiro dos Jerónimos e, claro, os famosos «Pastéis de Belém». Ter andado de metro e de elétrico pela primeira vez é algo que eu também nunca mais me vou esquecer. E depois disto, o mais difícil foi mesmo regressar à ilha, não só porque eu já tinha visto vídeos no YouTube de como eram algumas aterragens no Aeroporto da Madeira, mas também porque eu estava de regresso a um lugar que não me deixava viajar de carro para lado nenhum a não ser para dar a volta à ilha. Mal aterrei no aeroporto, não tinha dúvidas: queria voltar a viajar de férias. E foi exatamente isso que eu fiz nos anos que se seguiram...