Criar os filhos dos outros?! Credo...
A propósito do episódio desta semana do programa televisivo «E Se Fosse Contigo» e do debate em torno da adoção de crianças por casais do mesmo sexo, lembrei-me de um jantar de Natal que eu tive há dois anos em que o tema de "confraternização" foi a adoção de crianças. Tive, mas não estive. Infelizmente – para mim –, eu não pude estar presente no momento do "debate" e já só soube da opinião de algumas pessoas que lá estiveram quando elas já lá não estavam.
E se pensam que o "debate" acabou por girar em torno do tema polémico da adoção de crianças por casais do mesmo sexo, deixem-me adiantar-vos que o debate girou apenas e só em torno do tema – também ele muito polémico – da adoção de crianças por casais de sexo diferentes. Tinha tudo para correr mal, mas como eu não estava, acabou por correr mais ou menos. Para uns foi um momento de "ação de graças", para outros foi quase uma espécie de "último julgamento".
Está aberta a audiência:
«Criar os filhos dos outros?! Credo... Quem os tem que os crie!» – exclamou alguém, sem interrogações, sem vírgulas e, muito provavelmente, sem juízo, pensando talvez que a audiência que ali estava era composta por pessoas que ajuizavam da mesma forma, ou seja, sem juízo algum.
«Não me diga que não iria gostar do meu filho adotivo tal como gosta do seu neto?!...» – perguntou a nora (adotiva) à sogra (adotiva), enquanto apontava com a mão para o seu único neto (biológico).
«Claro que não, porque não seria meu neto.» – sentenciou logo, ali, na mesa daquele jantar de Natal, a avó biológica, como se a sua sentença fosse transitar em julgado e como se um eventual filho adotivo e/ou biológico daquela mãe quisesse alguma vez ser neto adotivo ou biológico de uma avó assim. Só se o pai (adotivo) não o soubesse educar.
Enfim, mais argumento, menos argumento, o "debate" terminou como começou, sem ninguém ir parar ao inferno, não pelo menos para já.
[Tal como esta avó, eu também tenho pensamentos que não lembram a ninguém, só que não os verbalizo. Muito pelo contrário, tento apagá-los da minha mente porque tenho discernimento e inteligência suficientes para perceber que são pensamentos tolos sem quaisquer fundamentos. Quero dizer, se tiverem piada...]
No que à minha opinião diz respeito, debatam o que debaterem, julguem o que julgarem, sentenciem o que sentenciarem, biológico ou adotado, ninguém é de ninguém, e quem pensa que um filho/neto biológico é mais dos pais/avós biológicos do que dos pais/avós adotivos, desengane-se, pois há filhos/netos biológicos que mais parecem que foram adotados pelos seus pais/avós biológicos, com a única diferença de que não se dão tão bem!