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Sem Sentido

Um blogue sem sentido... de humor!

18
Out17

Comprar casa?! Só se for depois de a arrendar durante três anos... – Parte 1/2

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Já diz o povo que «quem casa quer casa» e eu, que casei há pouco mais de 3 anos, não fui exceção. E ainda não tinha casado e já andava à procura de casa, não para comprar, mas para arrendar.

 

Porquê arrendar e não comprar?!

 

Primeiro, porque nem eu nem a minha esposa tínhamos dinheiro suficiente; segundo, porque apesar de eu ter a certeza de que o banco nos emprestaria o dinheiro necessário, nunca me agradou a ideia de viver endividado o resto da minha vida com a obrigação de pagar uma coisa que mais tarde posso já não querer, até porque, regra geral, quando se deixa de pagar uma casa ao banco por razões de força maior, perde-se a casa, mas tem-se de continuar a pagá-la, ao passo que, quando se deixa de pagar uma casa ao senhorio, seja por que razão for, perde-se a casa, mas não se tem a obrigação de continuar a pagar por uma coisa que já não se usufrui; terceiro, porque há fatores importantes que eu valorizo numa casa que só depois de eu viver nela durante algum tempo é que eu consigo perceber se é mesmo naquela casa que eu quero viver o resto da minha vida.

 

E se estão interessados em saber quais são esses factores, leiam o texto que se segue até o fim e pensem duas vezes quando estiverem a pensar comprar casa.

  

– Do que é que estão à procura?

 

– Acima de tudo, de um apartamento sem mobília, perto do centro da cidade. Se for novo, melhor ainda.

 

[Sim, é verdade. Ao contrário do que muita gente quer, nós não queríamos um apartamento mobilado. Queríamos tudo novo e ao nosso gosto.]

 

Como é óbvio, a tarefa não foi fácil, mas depois de tanto procurarmos, lá encontrámos um apartamento que nos encheu os olhos – os dela de felicidade, os meus (quase) de choro –, um apartamento que era novo, por estrear, com áreas bastantes amplas, uma cozinha toda equipada e uma vista bastante agradável, mas que estava todo sujo, com muitos defeitos de construção e maus acabamentos: muita poeira e vestígios das obras um pouco por todo o lado, nomeadamente dentro dos armários da cozinha; janelas, rodapés e guarda-fatos cheios de tinta igual à das paredes; soalho defeituoso, pintura de uma das paredes do quarto de dormir individual e do muro da rua com bolhas devido à humidade e/ou às infiltrações; portas emperradas; paredes da casa de banho das visitas forradas com papel de parede, azulejos do chão da cozinha e do pátio ocos,... Enfim, tudo isto e outras coisas mais que não me agradavam, mas que para a minha esposa, então namorada, não passavam de pormenores insignificantes. E ela gostou tanto que assinamos logo o contrato de arrendamento. Começamos a pagar renda faltavam ainda 5 meses para o nosso casamento, tudo porque ela tinha receio de que aparecesse alguém e ficasse com o seu/nosso apartamento de sonho.

 

O entusiasmo foi tanto que nem sequer a garagem fomos ver. Quando vimos, foi uma surpresa completa: uma rampa inclinada, numa curva bem fechada, que não me fazia ver outra solução que não fosse estacionar o carro na rua.

 

[No início, como não havia ainda ninguém a viver no prédio, deixei o carro estacionado no piso de cima, mas com a chegada de novos inquilinos, já só estaciono o meu carro no piso de baixo. Afinal, não é assim tão complicado, mas só porque não é a minha esposa que tem de tirar o carro da garagem, caso contrário, era impossível.]

 

E porque estávamos a pagar com muita antecedência, claro que começámos a ficar no apartamento. Nos primeiros dias, apenas para dormir e desfrutar de uma casa totalmente vazia com uma cama insuflável extremamente confortável, à luz de uma lâmpada ligada a uma extensão; nos dias seguintes, nomeadamente aos fins de semana, e até à véspera do dia do nosso casamento, para trabalhar como escravos: limpar a poeira e a tinta espalhada pela casa, pontinho por pontinho; pintar três paredes de cor cinza, só para dar alguma cor a uma casa que estava pintada totalmente de branco; rasgar parte do teto da sala de estar com uma chave de fendas para fazer com que o candeeiro do teto da sala ficasse mesmo ao centro da mesa de jantar e não um metro ao lado; raspar e pintar a parede de branco do quarto e da rua; limpar o soalho com um pano húmido vezes sem conta até nos apercebermos de que as pegadas que teimavam em não desaparecer estavam por debaixo do verniz do soalho; tirar medidas, fazer simulações com cartões e fita adesiva e até desenhar algumas peças de mobília para que tudo ficasse ao nosso gosto, nas devidas proporções,... Enfim, nestes quase 5 meses, quase tudo e mais alguma coisa fizemos menos aquela que devíamos ter feito: descansar, fazer praia e desfrutar do resto da nossa vida de solteiro.

 

[Ainda hoje a minha esposa fica chateada comigo sempre que se lembra destes 5 meses... Quem mandou começar a arrendar tão cedo?!...]

 

E porque haviam casas em torno do prédio onde estamos já estávamos a viver, eis que chegou à altura de conhecer os vizinhos:

 

– Este prédio nunca deveria ter sido construído. Isto foi tudo feito à margem da lei. Não têm pulgas dentro de casa?! Quando estavam a construir o prédio, eram só pulgas...

 

Como é óbvio, eu não lhe respondi nem lhe disse nada, até o dia em que eu me apercebi de que ela fazia questão de estacionar o seu carro mesmo em frente à minha porta:

 

– Desculpe, mas se tem um lugar de estacionamento vazio imediatamente atrás e outro vazio imediatamente à frente, porque é que faz questão de parar o seu carro mesmo em frente à minha porta, se aqui nem sequer é um lugar de estacionamento?

 

– Não é lugar de estacionamento?! Eu sempre parei aqui e vou continuar a parar. Se acha que não posso, chame a polícia.

 

Claro que não chamei a polícia, nem mesmo quando o filho dela começou a fazer o mesmo, de propósito, só para chatear, até porque eu tinha a perfeita noção de que aquele pedaço estrada com pouco mais 30 metros estava destinado a facilitar a vizinhança que ali vivia e não ia ser eu que ia complicar. Na verdade, o que eu queria mesmo era perceber que tipo gente rodeava o meu prédio e percebi logo: gente com uma educação e civismo ao nível do Paleolítico!

 

E foi já só depois de eu casar e de regressar da lua-de-mel que eu não tive quaisquer dúvidas de que, na minha vizinhança, habitavam seres vindos da pré-história, com a diferença de que, em vez de pedras, eram dos ovos que eles faziam armas (de arremesso).

 

Para onde arremessavam eles os ovos?!

 

Para os carros que ficavam ali estacionados durante horas, mas somente para aqueles que não eram propriedade da vizinhança já conhecida. Sim, porque aqueles três lugares de estacionamento que ali estão – sendo que um deles não é lugar, mas dá para estacionar - não são pagos nem de moradores, mas têm dono. E era essa a mensagem que quem atirava os ovos queria claramente passar.

 

E para quem teimava em não perceber, eis que eu percebi que também riscavam os carros, tudo para dissuadir os seus proprietários de ali estacionarem. É que não havia semana que não houvesse carros riscados.

 

[Só para que não pensem que a culpa era minha: Já era assim antes de eu começar a viver cá e de ter abordado a vizinha, pois sei de pelo menos um carro que foi riscado muito antes de eu vir para aqui viver. Quanto aos ovos: sim, volta e meia, tinha ovos cruz espalhados pelo pátio, não sei se por falta de pontaria ou se de propósito.]

 

E eu, que já tinha percebido tudo, cometi o "erro" de deixar o meu carro estacionado na rampa, mesmo em frente à minha porta – para não "roubar" lugares de estacionamento à vizinhança –, naquela noite em que ele ficou sem bateria e eu sem discernimento suficiente para prever que o meu carro amanheceria riscado no dia seguinte, com quase toda a certeza.

 

Sim, o meu carro também foi riscado, em duas portas, não por eu não ser vizinho, mas por não pertencer àquela vizinhança habitada por trogloditas.

 

[Dizem que o Homem veio do macaco, mas, neste caso, acho que foi mesmo das galinhas...]

 

Escusado será dizer que apresentei uma participação por escrito na polícia, mas que o resultado foi aquele que já seria o previsto:

 

– Viu quem riscou?

 

– Não, mas tenho a certeza de quem foi.

 

– Sem três testemunhas oculares, nada feito. Quer um conselho: para malandro, malandro e meio. Entenda como quiser.

 

E eu, que não sou burro, mas pareço que sou tonto, entendi, mas não fiz nada. Sim, porque eu não tinha provas, mas tinha a certeza: quem atirava os ovos era a mãe e quem riscava os carros era o filho.

 

– Desculpe, estes lugares são de moradores?

 

– Não, mas, se quer um conselho, não estacione o seu carro aqui, caso contrário, corre o sério risco de ficar com o seu carro riscado. E não pense que é por mim, é pela vizinhança, pois eu próprio já fiquei com o meu carro riscado.

 

E isto era o máximo que eu podia fazer, se bem que, em determinados momentos, o que mais me apeteceu foi seguir o conselho do polícia... Enfim, tenho uma forma de pensar e de agir que não se compreende... até o dia. E depois disto, se ainda não perceberam qual é o problema de comprarem uma casa sem a arrendarem primeiro, leiam a segunda parte desta história e entendam como quiserem.

 

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