Abusos sexuais na Igreja Católica?! Estranho era se não houvesse...
Conheço alguém que acha que todos aqueles que vão para padre ou são homossexuais ou são loucos, porque um dos maiores prazeres da vida é fazer sexo. Ora, tendo em conta que a maioria dos padres faz sexo, quer seja com homens, quer seja com mulheres, loucos são só aqueles que o fazem com crianças. E é por isso que não são os homossexuais que precisam de ajuda psiquiátrica, mas sim os pedófilos.
Há pouco mais de duas semanas, o Papa Francisco recomendou aos pais o recurso à psiquiatria assim que estes se apercebam de tendências homossexuais nos seus filhos durante a infância. Na altura, eu cheguei a pensar que a recomendação era no sentido de serem os pais – e não os filhos – a recorrerem à psiquiatra, mas não: são os filhos com tendências homossexuais – e não os pais com tendências homofóbicas – que devem recorrer à psiquiatria para perceberem «como as coisas são».
«Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, a psiquiatria pode desempenhar um papel importante para ajudar a perceber como as coisas são. Mas é outra coisa quando ocorre depois dos vinte anos.»
Como é óbvio, a recomendação do Papa Francisco não caiu muito bem junto de alguma opinião pública, nomeadamente de algumas associações LGTB francesas, que logo se chegaram à frente para classificar as palavras do sumo pontífice de «graves e irresponsáveis» e condenar «esta proposta que recupera a ideia de que a homossexualidade é uma doença».
«Ora, se há uma doença é esta homofobia enraizada na sociedade que persegue as pessoas LGBT.»
Face às críticas, o Vaticano acabou por corrigir a declaração do Papa Francisco sobre a homossexualidade, dizendo que o sumo pontífice «não tinha a intenção de dizer que se tratava de uma doença psiquiátrica», mas a verdade é que nem o Vaticano nem a Santa Sé têm moral para corrigir quem quer que seja no que toca a esta temática, pois a posição da Igreja Católica continua a ser a de que os atos homossexuais são «contrários à lei natural» e «não podem, em caso algum, ser aprovados».
«[Os atos de homossexualidade] são contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.»
Ora bem, basta olhar para o afresco «A Criação de Adão», pintado por Michelangelo no teto da Capela Sistina, para se perceber que o próprio Adão – o da esquerda – era homossexual, ou acham mesmo que aquela pose e aquela mãozinha é coisa de quem gosta de mulheres? Além do mais, se Deus é o criador de todas as coisas, porque razão há de ser a homossexualidade uma exceção? Às tantas, «não tinha a intenção»...
Enfim, com intenção ou sem intenção, a verdade é que tanto o Papa Francisco como o Vaticano conseguiram desviar as atenções de um tema bem mais importante e atual: os abusos sexuais de menores na Igreja Católica. E é por esta e por outras que não se percebe a posição da Igreja Católica no que diz respeito à sexualidade, pois se, por um lado, condena veementemente a luxúria entre os fiéis, nomeadamente a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais, por outro lado, é demasiado conivente com os atos sexuais bem mais levianos e doentios praticados pelos sacerdotes. É certo que o Conselho de Cardeais do Vaticano já veio dizer que a Santa Sé vai prestar, muito em breve, todos os «esclarecimentos necessários» em relação ao escândalo dos abusos sexuais que abalou a Igreja Católica nas últimas semanas, mas a verdade é que, enquanto a castidade, a continência e o celibato continuarem a ser condições obrigatórias para o exercício do sacerdócio, o mais provável é que os escândalos sexuais continuem a surgir. Não é que eu ache que a abolição destas três condições erradicaria por completo os casos de abusos sexuais na Igreja Católica, mas acredito verdadeiramente que a procura de sexo dos sacerdotes junto daqueles que são mais vulneráveis diminuiria radicalmente. Para isso, é necessário que a Igreja Católica comece a encarar o sexo – entre adultos e com mútuo consentimento – como algo perfeitamente normal e desejável na vida de qualquer ser humano e não como algo que é «moralmente desordenado» quando não tem por finalidade a procriação.
Fazer sexo é, sem dúvida, um dos maiores prazeres da vida. Aliás, de acordo com a pirâmide de Maslow, mais do que um ato de prazer, fazer sexo é uma necessidade fisiológica básica, a par da respiração, comida, água, sono e abrigo. E é por isso que alguém que eu conheço acha que todos aqueles que vão para padre ou são homossexuais ou são loucos. Ora, tendo em conta que a maioria dos padres faz sexo, quer seja com homens, quer seja com mulheres, loucos são só aqueles que o fazem com crianças. E é por isso que não são os homossexuais que precisam de ajuda psiquiátrica, mas sim os pedófilos!