A minha esposa está grávida... outra vez!
Lidar com uma gravidez não é nada fácil, mas a verdade é que, cá em casa, estamos todos muito contentes com a gravidez da minha esposa: a minha esposa porque já pode comer à vontade sem parecer que está gorda, eu porque o escalão do abono de família deverá subir, a minha filhota porque quer ter «muitas manas e muitos manos» e o meu filhote porque fica sempre muito contente quando estamos todos contentes. A ver vamos se este contentamento se mantém depois de o bebé nascer...
Depois de uma filhota que vai fazer quatro anos em setembro e de um filhote que vai fazer dois anos em junho, eis que a minha esposa está grávida outra vez e a nossa família vai aumentar já a partir do próximo mês de novembro. Sim, é verdade. Esta não é a primeira gravidez da minha esposa, mas para mim e para a minha esposa é como se fosse. Queremos muito ter uma família numerosa e esta gravidez é um passo gigante nesse sentido. Se para muitos pais um filho é bom, dois é perfeito – se for um casal – e três é de mais, para nós um filho é bom, dois é muito bom e três é excelente. Perfeito?! Perfeito seria termos quatro filhos, porque filhos nunca são de mais, mas a ver vamos o que é que o futuro nos reserva. Para já, reserva-nos o desafio de passar por mais uma gravidez, mas desta vez com dois pirralhos à solta dentro de casa.
Neste blogue, muitos são os textos que eu já escrevi sobre pais e filhos. Já escrevi sobre as razões que levam os pais a quererem ter filhos em pleno século XXI, as coisas que os bebés aprendem com as mães e que alguns pais não gostam, a experiência inesquecível de ver a minha esposa dar à luz pela segunda vez, o desfralde da minha filhota,... Enfim, textos e mais textos sobre pais e filhos é o que mais não faltam neste blogue, mas a verdade é que, no que diz respeito a esta temática, há um tema sobre o qual eu nunca escrevi: gravidezes. E porquê? Sinceramente, não sei, mas se há uma coisa que eu sei é que não foi por achar que a gravidez é um «assunto de mulheres». Muito pelo contrário. Para mim, a gravidez é um assunto tanto de mulheres quanto de homens. E aquela ideia preconcebida de que as mulheres são as únicas que sofrem com uma gravidez é claramente um mito. Os homens sofrem tanto ou mais do que as mulheres com uma gravidez. E é exatamente sobre isto que eu vou falar de seguida.
Se, por um lado, é verdade que, cá em casa, estamos todos muito contentes com a gravidez da minha esposa, por outro, não é menos verdade que a minha vida não vai ser nada fácil nos próximos meses. Já pensaram no que será viver com uma grávida e duas crianças durante nove meses? Pois é, eu também não pensei, mas agora que a minha esposa está grávida, já não penso noutra coisa. Como se não bastasse, quis o destino que, depois de a minha esposa engravidar, surgisse uma pandemia e tivéssemos de ficar todos fechados em casa, de quarentena, durante dois meses, tudo porque um sacana de um chinês comeu um morcego, uma cobra ou um pangolim, não percebi muito bem. [Mas será que esta gente não tem mais nada para comer?] Graças a este chinês – e à pandemia que ele fez despoletar – não pude fazer aquilo que mais me apeteceu fazer nestes últimos dois meses: fugir de casa. Sim, também me apeteceu muitas vezes fazer sexo com a minha esposa, mas a verdade é que uma mulher grávida é pior do que o Teixeirinha doente: «dói aqui, dói ali, me dói por todo o lugar». Ou muito me engano ou, no que diz respeito a fazer sexo, o meu período de quarentena (involuntária) só deverá terminar na quadragésima semana de gravidez, que é quando as enfermeiras dizem às grávidas que elas devem fazer sexo para estimular o trabalho de parto. Quero dizer, nessa altura, com o bebé voltado de cabeça para baixo, não sei se consigo... Ainda assim, no que diz respeito à vida sexual de um homem, o pior não é durante a gravidez. O pior é depois da gravidez, quando o bebé nasce. Se, antes de o bebé nascer, é a barriga que mais se destaca no corpo de uma mulher grávida, depois de o bebé nascer são os seios que ganham todo um volume e destaque para a animação da maioria dos homens. Para animação, como quem diz, porque se há coisa que um homem não pode fazer depois de um bebé nascer é tocar nos seios de uma mulher que está a amamentar porque «dói muito». Já o bebé, pode usar e abusar, doa o que doer. E nós? Nós ficamos a ver e a sofrer, pois se há coisa que doí muito é ver um "prato cheio" e não poder "comer". Já perceberam porque é que eu digo que os homens sofrem tanto ou mais do que as mulheres com uma gravidez ou querem que eu continue? Pois bem, continuemos.
Se uma mulher com TPM é de fugir, uma mulher grávida é de desaparecer. Uma mulher grávida nunca está bem: nem acordada, nem a dormir, nem de pé, nem sentada, nem ao sol, nem à sombra, nem a andar, nem parada... E nem mesmo depois de atacarem os armários da cozinha e darem cabo das guloseimas que davam para um mês se elas ficam satisfeitas. Em pouco tempo, ficam com uma barriga de bradar aos céus, mas a pergunta não poderia ser outra:
– Pareço gorda?
– Não, claro que não. Pareces grávida...
[Ai, se os narizes crescessem...]
Como se já não bastasse termos de as alimentar como um porquinho para a festa, ainda temos de andar com elas pela mão a passo de caracol, tudo porque elas não conseguem ver onde põem os pés e nós não queremos que elas torpecem ou pisem cocó no meio da rua. Ainda assim, agradeço à mãe natureza por fazer com que apenas as mulheres possam engravidar, pois eu acho que não conseguiria aguentar tanto tempo sem ver a parte do meu corpo que eu mais prezo...
[Livra! Mandava colocar logo um implante...]
E quando achamos que já nada pode piorar, eis que nos cruzamos com alguém conhecido no meio da rua e começam as perguntas «clichês» que toda a gente faz sempre que vê uma grávida:
- Foi um acidente ou queriam mesmo?
Eu não sei qual é a imagem que vem à cabeça destas pessoas quando ouvem a palavra «acidente», mas à minha cabeça vem logo a imagem de um atropelamento ou de um carro despistado com pessoas mortas lá dentro. E é por isso que me faz sempre muita confusão quando as pessoas utilizam a palavra «acidente» no contexto de uma gravidez. Sim, eu sei que o que as pessoas querem mesmo saber é se o momento em que o espermatezoíde saíu da uretra e acertou no óvulo foi um "acidente", mas a verdade é que, para mim, um acidente seria se, em vez de acertar no óvulo, acertasse no meu olho. Não morreria, é certo, mas seria coisa para eu ficar ceguinho.
[Sim, eu sei que o que o que as pessoas querem saber é se a gravidez foi desejada ou não, mas já pararam para pensar no quanto esta pergunta é contrangedora para os progenitores se a gravidez não tiver sido desejada/planeada? É o mesmo que perguntar a uma mulher se ela está grávida quando, na verdade, ela só está gorda...]
- Já sabem o que é?
A resposta que eu sempre dou: «Em princípio, é um ser humano, mas nunca se sabe». Normalmente, as pessoas riem-se, mas a verdade é que nunca se sabe. Estamos a contar com um ser humano e depois sai-nos um pequeno animal. Eu, por exemplo, achava que tinha trazido dois seres humanos ao mundo, mas a cada dia que passa, começo a achar que não passam de dois pequenos animais indomáveis. Eu só não os levei ainda ao jardim zoológico porque tenho receio que, mal eles entrem, os macacos e os leões saiam de lá a correr.
– Coitadinhos, são uns anjos...
– Levem-nos pra casa e ponham-nos no presépio...
- Preferem menino ou menina?
E aqui devo confessar que, mais do que ouvir esta pergunta «clichê», já não tenho paciência para ouvir a resposta ainda mais «clichê» que a maioria dos pais e das mães dá: «desde que venha com saúde e perfeitinho é o que importa». Querem ver que os pais que têm preferência por um dos géneros não se importam que o seu filho ou filha venha com saúde e "perfeitinho"?
– Parabéns, é uma menina. Mas nasceu com sete dedos em cada mão...
– Yuppieeee...
Como é óbvio, o que mais importa para os pais é que os filhos nasçam «com saúde e perfeitinhos», mas isso não significa que não possam responder que têm uma preferência. Ainda assim, havendo preferência, compreendo perfeitamente que a maioria dos pais responda desta forma, pois já pararam para pensar no quanto seria constrangedor para um pai ou uma mãe passar por alguém com um bebé de um género depois de ter respondido que tinham preferência por outro?
– Coitados... Queriam tanto uma menina e tiveram um menino.
Como se não bastasse, ainda perguntam pelo nome. Pior: opinam sobre os nomes que dizemos sem lhes perguntarmos nada.
«Maria Pia? Credo, que nome feio...»
«Sebatião Maria? Vocês estão doidos...»
Para o próximo filho, ainda não temos nome, mas uma coisa é certa: independemente do seu género, vai ter «Maria» no nome, nem que seja só para eu dizer que também tenho três «Marias» em casa. A ver vamos se lucro alguma coisa com esta brincadeira...
[Antes que se lembrem de sugerirem nomes para o meu próximo filhote, relembro que esta gravidez não foi fruto desta pandemia. Portanto, Corona Maria ou Covid Maria não faz sentido. Além do mais, se eu fosse por essa lógica, o nome da minha filhota não seria Maria Pia, mas sim Maria Jesus. Ela nasceu a 25 de Setembro...]
Enfim, lidar com uma gravidez não é nada fácil para ninguém, mas a verdade é que, cá em casa, estamos todos muito contentes com a gravidez da minha esposa: a minha esposa porque já pode comer à vontade sem parecer que está gorda, eu porque o escalão do abono de família deverá subir, a minha filhota porque quer ter «muitas manas e muitos manos» e o meu filhote porque fica sempre muito contente quando estamos todos contentes. A ver vamos se este contentamento se mantém depois de o bebé nascer...