A inocência das crianças já não é o que era...
Ainda me lembro de ter nove anos e de nada saber sobre sexo, nem sequer saber de onde vinham os bebés. A minha mãe fez sempre questão de me dizer que me encontrou num cestinho, num rio, e eu, mesmo sabendo que não existiam rios na Madeira e que os cestos eram artefactos de vime ou de varas entrançadas que não boiavam e que muito facilmente se afundavam na água, nunca a confrontei sobre este assunto. Digamos que, nesta idade, o que menos me interessava era saber de onde vinham os bebés ou como eles eram feitos.
Aos nove anos, o que eu queria mesmo era que a minha mãe me deixasse ir para a estrada brincar à bola, já que eu, em casa, não tinha computador, não tinha Internet, não tinha videojogos e, na televisão, só tinha a RTP Madeira para ver o MacGyver aos sábados, mas só quando não dava vento, caso contrário, só via “arroz”. Enfim, nada que se compare à infância dos miúdos de hoje em dia, já que, aos 3-4 anos, eles já têm um táblete com jogos para passarem o dia a "brincar" e, aos 6-7 anos, com Internet para pesquisarem no Google «meninas nuas» ou «meninas sem cuecas», mal aprendem a escrever. Aos 9 anos, muitos deles já nem virgens devem ser e não deve ter sido por terem brincado ao pai e à mãe, certamente.
Não obstante, lá chegou o dia em que a minha mãe tomou a iniciativa de me explicar como é que se faziam os bebés, sem eu lhe perguntar nada:
«Não se beija nenhuma rapariga na boca senão ela fica grávida.» – disse-me a senhora minha mãe, de forma pouco erudita, é certo, mas de forma muito intencional, tinha eu nove anos, estava prestes a ser matriculado numa escola onde havia alunos com o dobro do meu tamanho e/ou idade e, muito provavelmente, metade da minha ignorância e/ou ingenuidade.
E eu?!
Acreditei na minha mãe, claro. Acreditei tanto que, sempre que via os rapazes a beijarem raparigas na boca, só pensava:
«Este pessoal é todo maluco. Vão engravidá-las!»
Sim, eu era ingénuo demais para minha a idade, mas sabem que mais: hoje, já adulto, e depois de me educar, formar e informar, percebo que, afinal, a minha mãe é que tinha razão, pois, na prática, tudo começa com um beijo, e se não começa, algo vai muito mal na educação, formação e informação dadas às crianças e, garantidamente, a culpa não é da minha mãe.
Porque é que eu me lembrei disto agora?!
Porque eu sou pai de uma menina de 14 meses e acho que lhe vou dizer exatamente o mesmo quando ela tiver 9 anos. A ver vamos se a “educação sexual” nas escolas e os putos com tábletes não me estragam com os planos!