A Galp e o "golpe": Uma perspetiva!
Como é óbvio, não poderia deixar de falar de uma das maiores injustiças cometidas em Portugal no último mês/ano, relacionada com a demissão do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Prof. Doutor Fernando Rocha Andrade, e com a sua constituição como arguido no âmbito da investigação iniciada pelo Ministério Público às viagens pagas pela Galp para o próprio assistir aos jogos do Euro 2016.
Sim, "injustiça". E antes que comecem a tecer e/ou a comentar juízos de valor, leiam o texto que se segue, até o final, e… entendam como quiserem.
É verdade. Para quem não se lembra, a empresa Galp pagou as viagens – e sabe-se lá mais o quê – ao, agora, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, para ir ver os jogos da seleção portuguesa de futebol no Europeu de 2016, em França, enquanto nos tribunais, em Portugal, decorre um contencioso entre a empresa e o Estado que ultrapassa já os 100 milhões de euros, imaginem só.
[Não conseguem imaginar?! Pois, são tantos zeros…]
«É uma vergonha!» – afirmam, indignados, os cidadãos portugueses em geral (e os políticos em particular), não porque tenham moral suficiente para criticar, mas porque gostariam de ter estado no lugar do ex-secretário de Estado, se não se descobrisse tudo.
«É UMA VERGONHA!» – grito eu, bem mais alto e muito mais indignado, mas só porque acho uma tremenda injustiça o que fizeram e continuam a fazer ao (ex-)secretário de Estado.
Porquê?!
Ora bem, por três razões muito simples:
Primeiro: Porque, como é evidente, não foi com o dinheiro da Galp que o (ex-)secretário de Estado pagou as suas viagens a França para ir ver os jogos da seleção portuguesa de futebol, mas sim com o dinheiro dos impostos que a Galp não paga ao Estado.
[Sabem o contencioso?! É tudo por causa de dívida fiscal!]
Segundo: Porque não me parece que tenha havido qualquer segunda intenção e/ou tentativa de aproveitamento por parte da Galp, mas sim “cobrança disfarçada de impostos” por parte de um secretário de Estado que era responsável pelos assuntos fiscais.
[Seja em dinheiro ou em espécie, acho muito bem que que se cobre os impostos devidos, nem que seja através da penhora de bilhetes de avião e/ou de jogos de futebol. Aliás, aproveito para deixar uma sugestão aos inspetores tributários deste país: Sabem aqueles restaurantes que não passam faturas e/ou que não pagam impostos há anos?! Em vez de lhes aplicarem multas e/ou coimas que os donos do restaurante nunca vão pagar, vão lá almoçar todos os dias… sem pagar.]
Terceiro: O que é meia dúzia de milhares de euros (mais coisa, menos coisa) em viagens e/ou bilhetes quando tivemos um primeiro-ministro que recebeu milhões de euros e não foi demitido nem reembolsou o que quer que fosse a quem quer que tenha sido?! Tudo bem que ele chegou a ser preso, mas logo provaram que era ele inocente e colocaram-no em liberdade.
[São situações lamentáveis como esta que devem ser evitadas a todo o custo, pois só fazem com que o Estado perca milhões e milhões de euros em indemnizações, não porque não tenha detetado as irregularidades e/ou os comportamentos ilícitos, mas porque nunca (ou muito raramente) consegue provar quem foram os seus autores.]
Percebem, agora, porque é que eu estou indignado e grito: É UMA VERGONHA?!
Porque o que Portugal mais precisa é de alguém que faça o mesmo que Fernando Rocha Andrade fez: cobrar impostos de forma camuflada, sem que ninguém perceba. Pena que alguém percebeu e estragou tudo!