A eutanásia mata, mas não dói. Nem faz mal a ninguém!
Hoje, quatro projetos-lei sobre a despenalização da eutanásia em Portugal foram a votos no Parlamento, mas nenhum deles foi aprovado. Repito, nenhum. A maioria dos deputados tomou a liberdade de votar de acordo com a sua consciência – como se tivessem consciência para votar no que quer que seja – e votaram contra a possibilidade de cada um de nós poder ter a liberdade de decidir, de acordo com a nossa consciência, o termo da nossa própria vida. Repito: da nossa própria vida!
É certo que o tema é bastante sensível e polémico, mas antes que o banalizem, é preciso deixar bem claro que nenhum destes projetos-lei permitia que qualquer cidadão pudesse recorrer à eutanásia – morte assistida, se preferirem – por todas e quaisquer razões. Por exemplo, um adepto de futebol que quisesse pôr termo à sua vida porque o seu clube perdeu o campeonato nunca poderia recorrer à eutanásia. Eu até nem me importava que assim fosse, mas não, infelizmente, nenhum contemplava esta hipótese.
Mas, afinal, o que é que continham estes projetos-lei de tão sensível e polémico?
Ao pormenor, eu não sei, mas, de uma forma geral, parece que despenalizavam a eutanásia quando aplicada em indivíduos maiores de idade, com doenças incuráveis e fatais, sem quaisquer hipóteses de voltarem a ter uma vida digna de um ser humano. Sabem aquilo que os veterinários fazem com os animais quando eles estão em situações idênticas? Era exatamente o mesmo, mas aplicada aos seres humanos e com o consentimento dos próprios, os “eutanasiados”, sem ser considerado crime.
[Até na morte os animais começam a ter mais direitos do que o ser humano. E é por estas e por outras que eu tiro o chapéu às sociedades protetoras dos animais: porque conseguem fazer mais pelos animais do que os nossos políticos pelo ser humano.]
Enfim, nenhum dos projetos-lei foi aprovado no Parlamento, mas mesmo que algum tivesse sido aprovado, Marcelo Rebelo de Sousa já tinha dito que o iria vetar (ou, pelo menos, enviar para o Tribunal Constitucional). Ou seja, mesmo que os deputados se comportassem bem, o Presidente da República dar-lhes-ia uma reguada por mau comportamento. Mas porque eu acredito que o debate sobre a despenalização da eutanásia em Portugal não vai ficar por aqui, quero deixar um pequeno contributo e sugerir uma ou outra medida que pode muito bem ajudar a mudar o rumo das mentalidades e a forma de encarar a eutanásia:
- Na eventualidade de se estar a pensar criar um referendo, fazer-se o mesmo que se faz com o tabaco, mas na televisão, em horário nobre: divulgar imagens chocantes de pessoas que sobrevivem em condições totalmente desumanas, tanto em casa como nos corredores dos hospitais.
- Na eventualidade de o debate se ficar apenas pelo Parlamento, criar-se um imposto especial sobre a eutanásia, nem que fosse só para que a maioria dos deputados ficasse com a certeza de que a pessoa não queria morrer (apenas) por causa do excesso de impostos que tem de pagar em vida.
O que é que eu quero com isto dizer?!
Eh, pá, que façam o que quiserem, como bem entenderem, desde que não privem as pessoas de uma das liberdades mais importantes das suas vidas: a liberdade de poder escolher entre morrer para a vida ou viver preso a um corpo morto!