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Sem Sentido

Um blogue sem sentido... de humor!

18
Abr19

A Catedral de Notre-Dame de Paris, meu Deus...

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Em França, um incêndio destruiu parte da Catedral de Notre-Dame de Paris, mas ajudas financeiras parecem não faltar para a sua reconstrução. Ainda mal o incêndio tinha sido dado como extinto e as doações já ultrapassavam os 600 milhões de euros. Em Moçambique, um ciclone destruiu grande parte da segunda maior cidade do país, mas as ajudas financeiras mal chegam para bens alimentares e cuidados de saúde. Tendo em conta que a reconstrução da catedral deverá respeitar o estilo gótico que tanto a caraterizava, aqui deixo uma sugestão: no teto da catedral, em letras bem grandes, gravar a frase «aqui jaz milhões de euros que poderiam ter sido utilizados para salvar milhões de vidas que morrem à fome em todo o mundo». Mais gótico do que isto parece-me impossível!

 

Na passada segunda-feira, a Catedral de Notre-Dame de Paris começou a arder e logo o mundo ficou chocado. De repente, mais nada importava, nem para as televisões que transmitiam, em direto, imagens do incêndio, durante horas a fio, nem para as grandes empresas que anunciavam doações na ordem das centenas de milhões. Ainda mal o incêndio tinha sido dado como extinto e as doações já ultrapassavam os 600 milhões de euros. Felizmente, ninguém morreu, mas também não era isso o que mais se temia. Neste incêndio, o que mais se temia era o desabamento de toda a estrutura da catedral e a destruição completa de um dos monumentos mais icónicos da França e do mundo. Aliás, naquele momento, se se pudesse escolher entre morrer pessoas e desabar toda a estrutura da catedral, tenho quase a certeza de que se escolheria morrer pessoas. Pelo menos foi com essa a sensação com que eu fiquei. E não é preciso muito tempo para se ficar com esta sensação. Basta pensar-se em Moçambique.

 

Em Moçambique, um ciclone matou mais de 400 pessoas e afetou mais de 800 mil pessoas, mas o mundo não pareceu ficar assim tão chocado. O ciclone deu-se há mais de um mês, mas as ajudas financeiras mal chegam para os bens alimentares e os cuidados de saúde que as pessoas afetadas tanto necessitam. A estas pessoas, faltam-lhes bens de primeira necessidade, daqueles que a maioria de nós deixa nos pratos, como restos, para deitar no lixo. Contra mim falo, que não fiz qualquer doação para Moçambique e ainda hoje deitei no lixo o resto da massa que a minha filhota deixou no prato. Mas não é só em Moçambique que se precisam de bens de primeira necessidade. Em muitos outros países também. E não é preciso passar um ciclone nem se dar uma qualquer catástrofe natural para que existam pessoas a passar fome neste mundo. República Democrática do Congo, Burundi, Eritreia, Chade, Etiópia, Serra Leoa, Somália, Haiti, Comores e Madagáscar são apenas alguns nomes de uma lista de mais de 40 países onde a proporção de subnutridos e a taxa de mortalidade de mortalidade infantil são «alarmantes». Parece mentira, mas é mesmo verdade: em pleno século XXI, há pessoas a morrerem à fome sem ser por dietas loucas ou distúrbios alimentares. Atualmente, mais de 800 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo. E é aqui que eu paro para perguntar:

 

Como é possível que, em menos de um dia, as doações para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame de Paris tenham ultrapassado os 600 milhões de euros e, para as pessoas que foram afetadas pelo furacão Idai em Moçambique há mais de um mês, as doações mal cheguem para bens alimentares e cuidados de saúde? 

 

Ainda ontem foi notícia que o Ministério da Educação de Moçambique precisa de 27,5 milhões de euros para a reconstrução ou reabilitação de mais de seis mil salas de aula nas quatro províncias afetadas pelo ciclone Idai, mas ainda não ouvi nenhuma grande empresa ou multimilionário se chegar à frente para dizer que vai doar 100 ou 200 milhões para esta causa. Nem para esta causa nem para outra qualquer de cariz humanitário, nomeadamente para o combate à fome no mundo. Eu sei que o nosso primeiro impulso é achar que tudo isto tem que ver com uma questão de côr, mas a verdade é que, neste momento, Notre-Dame está mais preta do que qualquer habitante de Moçambique e não foi por isso que se deixaram de fazer doações. Na verdade, neste caso em concreto, acho que tem tudo que ver com o facto de a Catedral de Notre-Dame de Paris ser Património da Humanidade e, neste momento, em Moçambique, nem património nem humanidade. A propósito, já repararam que, em menos de um ano, dois grandes grandes ícones do património mundial foram parcialmente destruídos por um incêndio? Primeiro foi o Museu Nacional do Brasil. Agora a Catedral de Notre-Dame de Paris. Eu não sou supersticioso, mas não será melhor começar já a atirar água para cima do Mosteiro dos Jerónimos? 

 

Em França, um incêndio destruiu parte da Catedral de Notre-Dame de Paris, mas ajudas financeiras parecem não faltar para a sua reconstrução. Ainda mal o incêndio tinha sido dado como extinto e as doações já ultrapassavam os 600 milhões de euros. Em Moçambique, um ciclone destruiu grande parte da segunda maior cidade do país, mas as ajudas financeiras mal chegam para bens alimentares e cuidados de saúde. Tendo em conta que a reconstrução da catedral deverá respeitar o estilo gótico que tanto a caraterizava, aqui deixo uma sugestão: no teto da catedral, em letras bem grandes, gravar a frase «aqui jaz milhões de euros que poderiam ter sido utilizados para salvar milhões de vidas que morrem à fome em todo o mundo». Mais gótico do que isto parece-me impossível!

 

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